terça-feira, 25 de novembro de 2008

Vicky Cristina Barcelona


Estava muito ansioso para ver o novo filme de Woody Allen, Vicky Cristina Barcelona, aliás estava muitíssimo ansioso. Vivi em Barcelona por um ano de onde regressei agosto último e isso impulsionou ainda mais minha descontrolada ansiedade para ver o que sairia dessa mistura tão sedutora; Cruz, Johansson, Bardem, Allen e Barcelona! Quando a expectativa faz a gente imaginar muito uma coisa, criar e recriar um mundo de possibilidades na nossa cabeça e assim mesmo achar que o que vem deve ser melhor ainda, isso acaba por criar uma outra sensação que costuma desanimar bastante; decepção. Porém quem acha que é disso que eu vou falar, está totalmente enganado.
Mesmo todo esse clima propenso ao fracasso criado pela minha insana mente não foi capaz de fazer-me decepcionar com essa última do Mr. Allen. Vicky Cristina Barcelona é tudo isso e mais um pouco. Como descrever? Talvez uma mistura de Noivo Neurótico, Noiva Nervosa, do próprio Allen, com Jules e Jim de Truffaut, mas com um ar mais latino, mais quente, mais sedutor. Coisa que só uma mistura tão propensa a causar faísca poderia proporcionar.
Na sua coluna de domingo do Caderno2, Daniel Piza diz que o próprio título do filme já indica o triângulo amoroso a se formar com Vicky, Cristina e Barcelona, sendo esta a terceira mulher. Eu vou um pouco mais além, Barcelona é na verdade a pimenta de toda essa receita. Barcelona é uma cidade que tem essa característica e esse poder de revelar a nós mesmos verdades escondidas e criar esse questionamento fatal sobre as nossas possibilidades. Quem ficar mais de uma semana em Barcelona vai entender o que eu estou dizendo. Aquele pensamento que assombra a vida de Cristina é inevitável. Parece que o caminho da vida se abre como um leque espanhol e um mar de dúvidas e questionamentos passam a inundar a mente. O problema é que a sensação que isso causa é boa, é mais do que boa, é sedutora. É um oceano de possibilidades, de maneiras de viver a vida, de sair do trivial de quebrar a rotina, de chutar a porra do pau da barraca de uma vez por todas. É sedutor, da medo, causa frio na espinha, ansiedade desespero e esperança sobre o desconhecido. Então Vicky e Cristina, assim como eu, não conseguem agüentar a pressão de poderem ser tão fantásticas como imaginam e fogem.
O filme trata não de um triângulo, mas de um quinteto amoroso surrealmente crível. Vicky é a representação do republicanismo americano, tem desejos e anseios reprimidos, mas é conservadora demais para lidar com eles e não consegue largar mão do conceito americano de felicidade; casamento, dinheiro e uma casa em Beverly Hills. Já Cristina é a representação dos democratas, tem toda a pinta de ser mente aberta, todo um potencial de criar algo novo com suas fotografias, mas na hora “h”, bate um medo, uma inquietação que bloqueia seu caminho trazendo-a de volta às amarras do conservadorismo puritano.
Já Juan e Maria Helena são a representação da atmosfera poluída de desejo, criatividade e sedução que envolve Barcelona. Sem certezas, sem seguranças, são combustível puro, são a vida em sua essência, vivem no limite de suas emoções, aflorando sua criatividade de modo como só quem vive em Barcelona sabe fazer.
Vale a pena ver essa última do Mr. Allen, que mais uma vez se superou e conseguiu captar o que muitos demorarão algumas épocas para entender. Que Barcelona é o centro das almas dessa geração. Assim como Paris na década de 60, São Francisco na década de 70 e Nova York na de 90, Barcelona é coração da juventude pensante e criativa desse início de século.

3 comentários:

Unknown disse...

muito bom o comentário sobre o filme, atiçou ainda mais a minha vontade de assistir, parabens pelo blog, abs
Isaac

Anônimo disse...

Eee, Brunão!
Adorei a crítica do filme e os comentários sobre Barcelona...
Genial a analogia com a política americana... muito bem vista.
Só não acho que a Cristina tenha tido medo. Acho que ela é um perfeito exemplo daquelas pessoas que estão eternamente insatisfeitas e em busca de um propósito na vida... Por um momento, pensa que encontrou, mas logo começa a se sentir inquieta, porque, no fundo, felicidade para esse tipo de gente é algo etéreo e passageiro.
Muito bom o filme, assim como sua crítica!
Parabéns, nerd!
Beijos de Barcelona

Anônimo disse...

Estimado Bruno,
Comperto en todo tus críticas a la peli.
El genial Woody Allen esta vez se queda atrapado, entre el aire liberal e internacional de Barcelona y la belleza de los actores...El director no logra ir más allá de un facil analogismo entre la conservadora cultura americana y la más abierta europea.
Pero un pintor con gran éxito, con una Vila al Tibidabo, con dinero y dos mujeres esplendidas no es el espejo de la cultura europea....
Hasta pronto Brother.
Mauro