domingo, 14 de dezembro de 2008

Gomorra


Estréia nos cinemas do país esta semana o filme Gomorra do cineasta italiano Matteo Garrone. Gomorra é a adaptação, ou ao menos a tentativa, do livro homônimo do aclamado escritor Roberto Saviano que escancara para o mundo a verdadeira face da máfia italiana, ou melhor, da máfia napolitana que tem por nome Camorra.
Em primeiro lugar é bom contextualizar um pouco a situação. Roberto Saviano é um escritor e jornalista napolitano que desde 13 de outubro de 2006 vive escondido e sob proteção policial. O motivo? Saviano se infiltrou na Camorra e escreveu um livro, com mais de um milhão de cópias vendidas, denunciando o brutal funcionamento e o escopo internacional da máfia napolitana. Saviano tem sua cabeça a prazo. Segundo Antonio Gonçalves Filho, do jornal O Estado de S. Paulo, a Camorra prometeu assassiná-lo até o natal deste ano. Coragem é o que não faltou para este homem, de 29 anos, desafiar uma das mais poderosas organizações criminosas do mundo.
O livro de Saviano foi aplaudido de pé pela Real Academia Suéca em 25 de novembro. Aquela mesma que todo ano distribui o prêmio Nobel. Já publicado em mais de 33 países, chega às livrarias brasileiras no dia 19 deste dezembro.
No entanto, o filme baseado no livro não condiz com todo sucesso de critíca e nem cumpre sua função de denúncia. Durante quase duas horas e meia o filme se arrasta e o espectador não vê a hora de sair do cinema. O filme tem a intenção de ser o mais cru possível, como se estivessemos literalmente viajando pela periferia de Napoles. Não é nada agradável, não tem trilha sonora, apenas som ambiente, não se contextualiza e muito menos se explica nada. Os planos são sempre muito fechados e as conversas são flagradas sempre pela metade. Ao que se precebe, a intenção é de fazer com que o espectador seja verdadeiramente um estrangeiro chegando agora no meio de toda essa confusão e, claro, não entendendo nada do que se passa. Em neunhum momento se tem uma visão panorâmica no filme, seja ela física ou ideológica.
Só depois de uma hora e pouco de filme é que se começa a entender o que se passa nas cinco histórias paralelas que se acontecem durante o filme. Um mafioso que nogocia com grandes empresas depósitos ilegais de lixo tóxico, um alfaiate que faz vestidos falsificados de grifes famosas, dois ladrões pés de chinelo que desafiam o clã local, um homem que distribui dinheiro a mafiosos aposentados e um garoto que inicia sua vida na máfia local. A montagem é confusa demais e acaba por formar um verdadeiro quebra cabeça, deixando muito difícil a noção de grandeza da organização criminosa. Seria muito melhor se fossem cinco esquetes separadas com uma pequena contextualização anterior. Esse modelo de histórias paralelas já cansou.
De qualquer maneira há um ponto muito positivo no filme de Garrone. Ele acaba com a visão romântica dos anti-heróis mafiosos que o cinema de hollywood construiu com filmes como O Poderoso Chefão de Francis Ford Coppola, Scarface de Brian de Palma (o original de Howard Hawks) ou Os Bons Companheiros de Martin Scorcese. Em Gomorra o mafioso é retratado do jeito que ele é realmente, ou seja, escória. Os personagens do filme são seres humanos podres, sem escrúpulos, violentos, sujos, um verdadeiro lixo da humanidade. Não têm nenhuma função social a não ser tornar insuportável a vida das pessoas de bem e atrasar o progresso na região sul da Itália.
O filme fica tão por alto, que no final o diretor apela para algumas explicações escritas. É quando se ouve no cinema em coro: ahhhh, entendi!
Apesar de não ter gostado do filme, mal posso esperar para ler o livro, onde tudo deve ser mais bem explicado e com certeza deve chocar muito conhecer a fundo essa rede mafiosa que tem braço até no nosso Brasil. Mais do que nada Roberto Saviano merece essa homenagem por sua coragem.

Ficha Técnica

Gomorra, Itália, 2008

Direção: Matteo Garrone
Roteiro: Maurizio Braucci
Produção: Domenico Procacci
Fotografia: Marco Onorato
Elenco: Toni Servillo, Gianfelice Imparato, Maria Nazionale, Salvatore Cantalupo, Gigio Morra, Salvatore Abruzzese, Marco Macor, Ciro Petrone, Carmine Paternoster


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