quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Queime Depois de Ler



Demorei, mas finalmente fui ao cinema ver a nova dos irmãos Coen, Queime Depois de Ler. Gostei muito do que vi e ouvi, porque além de bem filmado, os diálogos são fora de série. Joel e Ethan estão de volta na rota correta, a do humor ácido e crítico da sociedade norte-americana. Sempre gostei disso nos Coen, principalmente nos brilhantes Fargo e O Grande Lebowski. Me parece que há algo de dramático em suas comédias, algo que as tornam mais vivas, algo que me fez falta em Onde os Fracos Não Tem Vez, filme que apesar do Oscar, podem me apedrejar, não gostei.
Queime Depois de Ler traz de volta aquele humor corrosivo, tão marcante nos Coen, em uma comédia que mistura espionagem, crises familiares e extorsão. Osbourne Cox (John Malkovich) é um agente da CIA que acaba de ser demitido. Assim como no trabalho, as coisas vão muito mal para ele em casa também. Tentando achar um sentido para sua vida ele resolve escrever um livro com suas memórias. Há um que do personagem de Kevin Spacey em Beleza Americana em Osbourne Cox, eles sofrem da mesma crise da meia idade. Porém a coisa vai mais longe, ele passa a ser chantageado por uma dupla de imbecis brilhantemente criada pelos autores. Linda (Frances MacDormand) e Chad (Brad Pitt) trabalham em uma academia de ginástica e vêem em Cox a chance de mudar suas vidas. Aliás nem tanto porque Linda e Chad nem são tão ambiciosos, são na verdade gente que não tem a mínima noção da realidade. Pra fechar o roteiro bem bolado e apimentado na medida certa, Katie (Tilda Swinton), a mulher de Cox tem uma relação com Harry (George Clooney), um agente frustrado do FBI que também tem uma relação com Linda.
No entanto não se engane. O roteiro entrelaçado com histórias de personagens que se cruzam, não é apenas mais um filme de autor da safra contemporânea. Esse estilo iniciado por Alessandro Iñiarritu com Amores Brutos já estava ficando batido e se tornando um pouco padrão. E é exatamente nessa tecla que batem os Coen, satirizando esse tipo de roteiro e questionando a credibilidade de uma história montada nesses moldes. O grande risco de se escrever uma história desta maneira é cair no ridículo, como acontece por exemplo em Babel do próprio Iñiarritu, que acaba por criar situações demasiadamente inverossímeis que tiram a veracidade da história, prejudicando a conclusão. Os Coen riem de si mesmos desde o princípio. Sendo assim não há do que reclamar, só do que dar risada.
Joel e Ethan também não deixam barato para a sociedade americana. Satirizam, e muito, uma CIA sem sentido, que não tem idéia do que está fazendo e se contenta em, pelo menos, não fazer cagadas; uma instituição familiar podre, onde todo mundo trai todo mundo e também o exagerado culto ao corpo e cuidado com a beleza, que é o gatilho para todo o imbróglio.
Queime Depois de Ler é uma comédia divertida, mas é também uma crítica ácida a certos valores contemporâneos, assim como uma crítica ao novo modelo de fazer filmes cults. O filme mostra como é ridículo levar a si mesmo tão a sério e como é muito melhor saber rir de si mesmo para não ser tão ridículo.

Ficha Técnica

Queime Depois de Ler (Burn After Reading), EUA, 2008, 98 minutos
Direção e Roteiro: Joel Coen e Ethan Coen
Elenco: Frances MacDormand, Brad Pitt, George Clooney, John Malkovich e Tilda Swinton




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Um comentário:

Anônimo disse...

Esse filme é demais. Tenho que confessar que fui ao cinema sem saber do que se tratava e é impressionante como acreditei ser uma história séria até um bom pedaço do filme... Bom, pelo menos até ver o personagem do Brad Pitt, que está HILÁRIO no papel.
Concordo com você, o filme é bem filmado, tem um roteiro brilhantemente engraçado e um elenco muito bom.
Adorei a crítica, como sempre.
Bjss
PS: apesar de ter achado bem escrito e dirigido, tb não fiquei encantada com No Country...