quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Romance


Semana passada fui ao cinema para assistir o novo filme de Guel Arraes, Romance. Estava meio desconfiado. O cinema nacional da segunda metade deste ano vinha me irritando um pouco. Muita porcaria, muito marketing e filmes desastrosos. Era uma Vez… do, até então bom, Breno Silveira é horroroso e muito provavelmente o pior filme que já vi. A Casa da Mãe Joana, de Jorge Fernando nada mais é do que mais um chilique do diretor, sem graça, sem roteiro e sem razão de ser. E o que era para ser o maior sucesso do ano da Bossa Nova, Os Desafinados, de Walter Lima Jr. é uma decepção total. Depois de duas longas horas no cinema, o filme se perde nele mesmo e ao final não se sabe ao certo qual a história que se quis contar. Aí veio Romance. Por ser um filme do Arraes, tinha medo que ficasse ‘televisão’ demais assim como seus longas anteriores Caramuru e O Auto da Compadecida, mas até que não. Apesar de não ser uma obra fora de série, o filme é muito bom e vale ser visto.
O enredo se cerca por todos os lados da história de Tristão e Isolda, que como é contado no próprio filme, foi a base inspiratória de Shakespeare para Romeu e Julieta. No entanto, não espere uma mera repetição da trágica história dos dois amantes em tempos modernos. A história de Pedro (Wagner Moura) e Ana (Letícia Sabatela) nada tem a ver com o romance medieval, ao contrário do filme de Breno Silveira que faz uma releitura pobre de Romeu e Julieta. Contar a mesma história várias vezes no cinema, diferente do teatro que permite várias montagens, é complicado, acaba-se caindo no lugar comum e por fim o ridículo toma o lugar da seriedade. Em Romance, Tristão e Isolda é a inspiração artística que guia as carreiras de Pedro e Ana, que se conhecem quando Ana faz um teste para ser a atriz em um espetáculo dirigido e atuado por Pedro. Encenando o belo conto da idade média eles se apaixonam e vivem um verdadeiro sonho misturando realidade e teatro, paixão e profissão. O sucesso da peça, porém, leva Ana a televisão onde esta se torna rapidamente a atriz de maior sucesso do país. Pedro é muito dedicado e apaixonado pelo teatro e não se conforma com o fato de Ana passar a dar prioridade às novelas. Eles rompem e só vão se encontrar anos depois para fazer uma gravação de um especial de final de ano da rede Globo. No entanto nem tudo são flores nesse reencontro. Apesar continuarem apaixonados um pelo outro, existem outras pessoas na vida deles e, o que é pior, todos envolvidos na gravação do mesmo projeto. É exatamente nesse ponto que o filme peca. O roteiro perde força no triângulo amoroso formado por Pedro, Ana e Osvaldo (Wladimir Brichta). Osvaldo é o protagonista, junto com Ana no especial dirigido por Pedro, mas a situação criada para tal envolvimento é pouco crível devido à personalidade dos personagens e acaba por incomodar o bom senso e o sentimento de quem assiste ao filme. Depois, o desenrolar final volta a ser interessante e o resultado é bonito.
Defeitos a parte, o elenco é de primeiríssima linha com um quarteto completado pela ótima Andréa Beltrão e ainda participações especiais de José Wilcker e Marco Naninni. Wagner está espetacular, coisa que, aliás, ele já vem sendo há muito tempo e é sem dúvida o melhor ator brasileiro da atualidade. Wagner da muita vida e veracidade ao papel de Pedro e é muitíssimo bem acompanhado por Letícia que faz o melhor papel de sua carreira no cinema até agora. Só os dois em cena já valem o ingresso. Beltrão e Brichta não ficam atrás e ajudam a elevar a crítica do filme, algo que não me surpreende, pois considero os atores brasileiros acima da média. Se tivéssemos diretores do mesmo nível que temos nossos atores, o nosso cinema já seria de ponta há muito tempo.
O resumo da ópera é que vale sim ver Romance. E no cinema! Não esperem sair em vídeo. O filme tem também uma fotografia maravilhosa, assim como o Auto da Compadecida e ver no vídeo é perder metade da festa, sem contar a música muito bonita de Caetano Velloso. Sem preocupações de mostrar um Brasil de diferenças sociais e conflitos, Romance se foca na própria história, o que não é nada mal de vez em quando. O resultado final é bem emocionante. Divirtam-se.

Ficha Técnica:

Romance
Brasil/2008, 106min.
Direção: Guel Arraes
Roteiro: Guel Arraes e Jorge Furtado
Produção: Paula Lavigne
Fotografia: Adriano Goldman
Direção Musical: Caetano Veloso
Elenco: Wagner Moura, Letícia Sabatela, Andréa Beltrão, Wladimir Brichta, José Wilcker e Marco Naninni

CLIQUE AQUI PARA VER O TRAILER DE ROMANCE.


6 comentários:

Otávio Pacheco disse...

Ótima crítica, Brunão. Já estava com vontade de ver esse filme, se sobrar um tempo verei (no cinema!). Seu blog também está bem trabalhado, eu não tenho essa paciência toda (foram-se os tempos em que me dedicava ao design e detalhes dos meus blogs).
E essa foto da teia? É sua?

bia disse...

bruno!
gosto muito do seu jeito de escrever! sensato e inteligente! parabéns! vou te acompanhar...
Fiquei com vontade de assistir, tinha até comentado com a pri.
No meu blog não vai achar coisas assim, só devaneios e alivios em forma de palavras, mas... dê uma olhada amigo!
Um beijo grande e sucesso.
Bia Feital

Anônimo disse...

Meu D'us, o que foi aquele dia que assistimos Era uma Vez... Não sei quem saiu mais revoltado do cinema, haha...
Vou ver se consigo ver o filme online daqui...
Bjs

Unknown disse...

Grande Bruno, Trip to Bahia Eterno!!! Sabe tudo de cinema, direção e Rimet!!!!!

Anônimo disse...

Ahhhh, quero ver a sua crítica de Burn After Reading, hein! Mal posso esperar, filmaooo!!
bjss

Anônimo disse...

Nossa, vontade urgente de ver o filme depois de ler sua crítica, que está impecável! Parabéns mesmo, vou voltar sempre!

Beijo,
Luiza